Não sei dizer quando passei a ser uma mãe careta.
Lembro quando não tinha filhos e eu era a tia mais amada pelas crianças. As mães arrumavam os cabelos de seus filhos de ladinho, lambido, e eu - sendo a tia descolada - desarrumava e os deixava com cara de modernos.
Sempre fui a que ajudava a convencer os pais a deixar os filhos saírem para a primeira balada. Apoiava no primeiro beijo e ajudava a aprontar com as ex namoradas.
Mas de repente, não sei em qual momento da maternidade, me perdi disso.
Me vejo penteando os cabelos dos meus filhos de lado,e quanto mais lambido, mais eu gosto. Fico pensando em como o mundo está perigoso, e que talvez meus filhos descubram o que é uma balada depois dos dezoito anos.
Primeiro beijo? Analisei friamente, e cheguei a conclusão de que isso poderá ser adiado até os dezenove anos.
Deixando esses assuntos de adulto de lado, e observando o atual momento, não consigo pensar nas loucuras que eu fazia quando criança sem surtar se os meus filhos me imitarem.
O que aconteceu comigo?
Tenho minhas suspeitas. Desconfio que tenha começado logo depois do nascimento dos meus filhos, no momento em que alguém os trouxe, todos sujos ainda, ao meu colo, e aqueles olhinhos pequeninos me fitaram de um jeito vulnerável e indefeso. Senti que eles pediam em silêncio por ajuda, eles pareciam precisar que alguém os direcionassem, protegessem e os amassem.
Me senti pressionada. E acho -só acho- que foi isso que me fez ficar assim. Um pouco neurótica e até psicopata.
Quero ensiná -los a serem educados e a sentar na mesa sem os cotovelos apoiados no tampo. Que andem no shopping e só corram em parques ou pistas de atletismo. E por que não colocar capacete ao correr? Vou pensar no assunto.
A verdade é que mesmo sendo assim, tão careta, fico orgulhoso quando os vejo fazendo suas descobertas sozinhos. Fico preocupada e hesito antes de ir lá e colocar a rede de proteção ao redor deles, mas me encho de orgulho.
Enquanto escrevo, penso que talvez ser mãe careta não seja de todo mal. Mesmo por que, ao perguntar para as crianças se me acham caretona, eles disseram :"O que é isso?". Se eles não sabem o que é, eu talvez não seja tão careta assim.
Para equilibrar -e finalizar - danço todos os dias com eles. Uma mãe que dança só pode ser legal. Eles dão risada e não me deixam parar, então é legal sim.
Vou me policiar, ser mais descolada e menos psicótica. Quem sabe poderei ir na primeira balada com eles.
Até mais.