segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Nunca mais...

Olhei para o alto do prédio e vi uma mãe, na varanda de seu apartamento, embalando seu bebê. Sua cabeça estava aninhada naquele pequeno ser que a abraçava enquanto seus olhinhos fechavam para dormir.
O primeiro pensamento que veio em minha mente foi: "Coitada, espera só ele crescer e pedir para dormir no colo. Rá!". Mas o segundo pensamento veio logo em seguida: "Ai, minha nossa, meus filhos não cabem mais no meu colo desse jeito!".
Meus filhos, meus bebês! Como é bom quando podemos segurá-los no colo, dar uma fungadinha naquele pescocinho gostoso e sentir cheirinho de leite. Não vou mais sentir isso. Não terei mais bebê. E meus filhos estão crescendo em um ritmo acelerado demais. Tão acelerado, que mal percebi que não posso mais embalá-los no meu colo. Não posso mais me arrepender em ensinar que dormir no colo é mais gostoso que dormir sozinho na cama. Não posso mais aproveitar aquele momento da troca da fralda para fazer um monte de cócegas. Não poderei mais escutar pela primeira vez a palavra Mamãe dita de um jeito que só eu sei que é essa a palavra.
Meus filhos já andam, aliás, correm por tudo, independentes e sozinhos, querendo mostrar que é muito legal fazer tudo sem ajuda e me dispensam na primeira oportunidade. No banho, na troca de roupas ou até no banheiro, eles dizem orgulhosos que não precisam mais de mim e em alguns momentos eu até me senti aliviada por isso. Vibrei com eles pelas suas conquistas e curtimos juntos cada incentivo e pedido para não desistir. Mas hoje, olhando o bebê, sinto falta da dependência deles. Sinto falta daquele olhar e da mãozinha estendida quando estão tentando dar os primeiros passos.
Ah! Os primeiros passos! Como me senti feliz em vê-los andando sozinhos! E como me deram trabalho nessa fase, desbravando tudo e querendo subir em lugares que só alpinistas profissionais conseguiriam.
Por falar em olhar, e quando começam a "reconhecer" a mãe, e nos encaram daquele jeito como se não existisse nada mais perfeito e lindo do que nós?! Eu sempre brincava nessa fase, saindo de perto, só para ver até onde me seguiriam com os olhos. É uma enxurrada de amor em apenas um olhar, sem nenhuma palavra, nenhuma ação.
Sinto falta do choro. Sim, eu sei, sou louca. Mas eu gostava de saber diferenciar os choros. Poder pegar no colo e fazer passar aquele choro de manha, ou então coloca-los deitados em meu peito para aliviar as cólicas. Rir quando a dor passava e eles me olhavam com aquela boquinha toda suja de Funchicórian.
Olhei novamente o bebê da varanda. A mãe com um semblante cansado, olheiras e o cabelo espetado para todos os lados denunciavam o motivo de estar embalando a criança para dormir. Cansaço define qualquer mãe de recém nascido. Mas o mais importante estava ali, o rostinho tranquilo daquele bebê, sentindo-se seguro e feliz por estar com a pessoa mais importante do mundo: sua mamãe.
Respirei fundo, fechei os olhos. Meus filhos cresceram e não terei mais bebês. Mas lembrei do que faremos agora: meu filho irá escolher um filme para assistir agarrado em mim comendo pipoca e minha filha quer que eu faça tranças em seu cabelo. Não irei embalá-los no meu colo, mas agora estou colhendo todo o amor que plantei nesses dois pequeninos seres. Eles ainda querem ficar no meu colo, apesar de eu não conseguir mais carrega-los, querem ficar grudados em mim e querem que eu participe de tudo o que acham legal: brincadeiras, passeios, histórias que me contam e pedem conselhos.
Realmente, nunca mais terei bebês, mas meus filhos serão eternamente crianças para mim. Mudam os cuidados e a forma como nos olham, só não muda o amor que sentimos por eles, e o reconhecimento e agradecimento silencioso que nos dão.
Não tenho bebês, tenho filhos, e isso já me completa.
Até mais.